1988 a 2023: as greves históricas da USP

Estratégias grevistas mesclam novidades digitais e táticas da década de 80

Por Laura Pereira Lima e Thais Morimoto

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Greve de 2012 (Foto: Carolina Vilaverde/ JC)

“As cotas mudaram a USP. A composição social do movimento estudantil ser mais próxima da do resto do país é uma evolução muito interessante”, afirma Pedro Serrano, diretor do DCE entre 2010 e 2013, sobre as mudanças do movimento estudantil nos últimos anos. As formas de construir a greve mudaram, mas algumas pautas e estratégias perduram desde a década de 1980.

Piquete Utilizar carteiras para bloquear portas e impedir o acesso a prédios da Universidade é um método presente desde o início das reivindicações estudantis. Segundo registros da época, foi utilizado na greve de 1988 — e permaneceu presentes nas greves seguintes.

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Redes Sociais: De 2009 para 2023, as mídias sociais passaram a ocupar um papel central na divulgação dos eventos e na circulação de informações. “Mas a política continua exigindo o encontro e o ‘olho no olho’”, explica Lincoln Secco, professor de História da FFLCH, reforçando que grupos que não se reúnem presencialmente não conseguem ter influência.

Cultura: Na greve de 2023, o festival Grave na Greve teve a presença da banda Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo e da escritora Aline Bei. Os alunos também transmitiram filmes como o documentário Lute como uma Menina e o longa Coraline na ocupação dos blocos K e L, onde também foi realizado um karaokê.Na ocupação dos blocos K e L em 2007, foram exibidos os filmes Laranja Mecânica e Blade Runner, e, na greve de 2000, Tom Zé realizou um show em apoio ao movimento.

Grades da Prainha: Na greve de 2023, os estudantes derrubaram as grades que ficam entre o espaço de convivência da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e a Reitoria (ver página 14), colocadas em dezembro de 2016. Não foi um movimento inédito: em 2017, alunos tentaram derrubar as grades, mas foram impedidos por uma ação policial, que deixou feridos e culminou em um estudante detido por lesão corporal contra policiais.

Confira algumas das principais greves da USP

1988 Greve de professores e funcionários

Duração: 58 dias

Principal reivindicação: aumento de 85% nos salários e reajuste mensal de acordo com a Unidade de Referência de Preço (URP). Segundo relatos da época, um bolsista de pesquisa recebia mais do que um professor, a depender da bolsa.

Principal conquista: Aumento de 85% nos salários a partir de outubro daquele ano, além de um reajuste de 15% em novembro e mais 15% em dezembro. O reajuste mensal de acordo com a URP não foi cedido.

2000 Greve de estudantes, professores e funcionários

Duração: 54 dias

Principal reivindicação: Reajuste salarial de 25%

Principal conquista: Reajuste salarial de 22,45%

2002 Greve na FFLCH

Duração: 106 dias

Principais reivindicações: Contratação de 259 professores para a FFLCH

Principais conquistas: Contratação de 92 docentes e adoção do “gatilho automático”

2004 Greve de professores e funcionários

Duração: 62 dias

Principais reivindicações: 16% de reajuste salarial e aumento do repasse da arrecadação ICMS de 9,57% para 11,6%

Principal conquista: Reajuste de 6%

2007 Greve de estudantes, professores e funcionários

Duração: 20 dias, ocupação na reitoria durou 50 dias

Principais reivindicações: Anulação de decretos do governador José Serra que, segundo estudantes, ameaçavam a autonomia da Universidade; reformas nos prédios da USP e nos alojamentos; contratação de professores e abertura de 600 vagas adicionais no Crusp.

Principais conquistas: O governador alterou parcialmente a redação dos decretos

2009 Greve de estudantes, professores e funcionários

Duração: 57 dias

Principais reivindicações: Aumento salarial de 16% mais parcela fixa de R$200 para servidores; incremento de benefícios trabalhistas; fim da Univesp; aumento salarial e renúncia da reitora Suely Vilela

Principais conquistas: Aumento salarial de 6,05% para servidores e docentes, estabilidade de empregados irregulares, incremento de benefícios trabalhistas para servidores, adiamento do vestibular da Univesp e discussão da democratização da universidade.

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2013 Greve de estudantes

Duração: 50 dias

Principais reivindicações: eleições diretas para escolha do reitor da universidade, diretores de unidade e chefes de departamento, descontaminação do campus da EACH e renúncia do diretor Jorge Boueri e do vice-diretor Edson Leite no campus da EACH. 

Principais conquistas: reposição de aulas após a greve, manutenção de uma mesa de negociação com os estudantes, sinalização pela reitoria da instauração de um processo para a formulação de um novo estatuto da universidade, afastamento de Jorge Boueri da direção da EACH e criação de uma comissão permanente de acompanhamento ambiental.

2014 Greve de estudantes, professores e funcionários

Duração: 116 dias

Principais reivindicações: retirada pela reitoria da proposta de congelamento de salários 

Principais conquistas: reajuste salarial de 5,2% e abono de 28,6%

Os professores ficaram responsáveis por montar cronogramas de reposição das aulas. Os funcionários se comprometeram a fazer uma hora extra por jornada, durante 70 dias.

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2016 Greve de estudantes, professores e funcionários

Duração: 67 dias

Principais reivindicações: reajuste salarial de 12,3%

Principais conquistas: reajuste de 3%

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2018 Greve de estudantes, professores e funcionários

Duração: 31 dias

Principais reivindicações: reajuste salarial de 12,5%, acesso e permanência estudantil, contra o arrocho salarial e contratações de professores e funcionários 

Principais conquistas: renda mínima para inscrição de estudantes do programa de Bolsas Emergenciais passou de 1,0 para 1,5 salários-mínimos, reforma do Crusp, reajuste salarial de 1,5%, aumento de R$ 140 no vale alimentação e a possibilidade de reposição dos dias parados.

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