Em defesa de Paulo Freire

(Reprodução)

Obras reconhecidas mundialmente valorizam o diálogo

Por Pedro Graminha

Nomeado patrono da educação brasileira em 2012, o filósofo e educador pernambucano Paulo Freire foi uma das mais importantes figuras do cenário educacional do país e do mundo. Suas teorias voltam-se à crítica de uma educação tecnicista e defesa de um processo dialógico da educação, apresentando uma visão em que o educando constrói seu próprio caminho e não seguindo um previamente construído.

Em 2017, aos 20 anos da morte do educador, tramita uma ideia legislativa no site do Senado Federal, endossada por movimentos de direita como o MBL e o Escola sem Partido, visando revogar a lei 12.612, que instituiu à Paulo freire o título de Patrono da Educação Brasileira. A proposta, que já recebeu apoios suficientes para tornar-se uma matéria debatida no Senado, atesta que o autor é um “filósofo de esquerda” e seu método é a “materialização do marxismo cultural”.

Em resposta, uma petição iniciada pelo instituto Paulo Freire – entidade idealizada pelo próprio pensador, responsável pela manutenção de seu legado e promoção de uma educação emancipadora, defende a manutenção do título à Paulo Freire. Foi enviada também uma carta aberta ao Congresso Nacional pedindo a não acolhida do movimento iniciado. O Instituto declarou ao Jornal do Campus que “A proposta de retirada do título é mais um golpe contra a democracia se considerarmos o que significa o pensamento de Paulo Freire (…) O Brasil atual continua opressor e ainda não superou o analfabetismo e tampouco implementou uma concepção de educação emancipadora, tanto na educação básica, quanto na educação superior. Por isso, a teoria do conhecimento de Paulo Freire é tão necessária para a construção da educação pública, gratuita, popular, democrática e para todos.”

Novos Manuscritos da Pedagogia do Oprimido

Um dos principais trabalhos de Paulo Freire é o livro “Pedagogia do Oprimido”, obra que revolucionou os conceitos de educação popular e é reverenciada até os dias de hoje por educadores de todo o mundo. Escrita quando o autor encontrava-se exilado no Chile em 1968, por conta do Regime Militar, a obra só foi publicada no Brasil em 1975, contendo algumas partes suprimidas, possivelmente para evitar a ação dos censores. Versões mais próximas do texto integral da obra já haviam sido publicadas antes, em inglês e espanhol. Com a intenção de resgatar o conteúdo integral dos manuscritos da “Pedagogia do Oprimido”, a pesquisadora Camila Téo da Silva transcreveu os fac-similes do livro (reprodução exata de um documento original) ao mesmo tempo que fez um resgate histórico e metodológico do trabalho de Freire. “A minha maior motivação para encaminhar esse trabalho foi ter tomado conhecimento do desejo de Paulo de rever os manuscritos, pois ele faleceu em 1997 sem saber se eles estavam intactos”, conta Camila.

Seu trabalho, por ser uma pesquisa Filológica e crítica, baseou-se também em testemunhos do autor e de pessoas próximas a ele, como o filho mais novo de Freire, que atestou à Camila a preocupação do pai em produzir textos claros e bem ponderados. Dessa forma, depreende-se a importância do caráter didático de suas obras. Reforçando esse processo, uma das maiores diferenças entre as versões previamente publicadas de “Pedagogia do Oprimido” e os manuscritos são dois gráficos explicativos dos conceitos da “Teoria da Ação Revolucionária” e “Teoria da Ação Opressora”. O primeiro, circular, apresenta a educação como um processo em que o diálogo é condutor das ações e permite que elas sejam pensadas e problematizadas pelos próprios sujeitos envolvidos. É o princípio da Educação Emancipadora. Já o último, vertical, aponta ações transmitidas de cima para baixo, impostas, que visam à manutenção da realidade e a simples reprodução de conteúdos. O autor classifica tal sistema como “Educação Bancária”.

“É uma forma de evidenciar a preocupação com o recebimento desse conteúdo, de maneira didática e até mesmo prática. Freire se preocupava com o seu conteúdo e também com a forma de escrita.”, explica.

Camila aponta que o legado do pensamento de Freire, seus ensinamentos quanto à importância do diálogo, de se construir com o outro, é cada vez mais importante nos dias de hoje, em que manifestações de práticas intolerantes são cada vez mais recorrentes. “É fundamental que possamos nos debruçar sobre o trabalho de Freire, que é tão criticado justamente por encorajar a educação como forma de emancipação e empoderamento do indivíduo”.