Ribeirão Preto: Onde a medalha de ouro não é o limite

Centro de treinamento para atletas paralímpicos é mantido em parceria com USP de Ribeirão Preto

Ilustração: Lara Soares/JC

Por Isabella Gargano*

O Centro de Referência Paralímpica de Ribeirão Preto (CRPRP) é exemplo de sucesso da parceria entre o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o Centro de Práticas Esportivas da Prefeitura do Campus (CEFER) e a Escola de Educação Física de Ribeirão Preto (EEFERP). Com intuito de descentralizar o esporte paralímpico, o local desenvolve nove modalidades: atletismo, natação, esqui cross-country (paradesporto de neve), rugby e basquete em cadeira de rodas, goalball (similar ao handebol, adaptado  para deficientes visuais), vôlei sentado e parabadminton. 

Trata-se de uma iniciação esportiva com financiamentos do CPB e conta com a estrutura da USP Ribeirão. Erick Bueno de Ávila, secretário de esportes de Ribeirão Preto, explica como surgiu a colaboração. “Quando pensamos em nos aliar com a EEFERP, consideramos as modalidades de natação e atletismo. Além da qualidade acadêmica da USP, tinham estruturas fundamentais, uma piscina aquecida de 25 metros com acessibilidade.”

O programa atende sobretudo a demanda das pessoas de Ribeirão e de regiões próximas do interior paulista. “Além da faixa etária [de sete a 35 anos], nossa limitação é quanto ao número de alunos. A natação, por exemplo, trabalha com várias deficiências, então precisamos do suporte de estagiários e, quando não temos ajuda suficiente, a quantidade de alunos diminui”, explica Erick. 

Não à toa, o CRPRP é o responsável por treinar três atletas que competiram pelo Brasil nesta edição de Paris: Zileide Cassiano Silva no salto em distância, Mariana Garcia no handbike e Jéssica Messali no paratriathlon. 

Capa corpo é um corpo e cada deficiência é particular.

Matheus Benine

Matheus Benine é professor de atletismo no centro e conta que conheceu o esporte paralímpico durante a graduação de Educação Física na USP. “Não tenho movimento do braço esquerdo devido a um acidente de moto em 2013, dois anos depois, entrei na USP. Eu tinha um professor que falava sobre esportes adaptados, me interessei e comecei a praticar”, relata. 

Para praticar alguma das modalidades é necessário laudo médico que designe a deficiência, e assim a classifique para qual esporte o indivíduo está elegível. O atletismo é um dos paradesportos com mais variedades, aceita três tipo de deficiências, sendo elas: visual, intelectual ou física. Dentro de cada categoria existem subníveis que auxiliam a designar qual categoria e esporte o atleta pode competir. 

Karen Carneiro, estudante de farmácia na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), tem hemiplegia – uma forma de paralisia cerebral que causa dificuldade de movimentos de um lado do corpo – e pratica atletismo no CRPRP. “Sem querer eu acabei como aluna do Matheus. Ele me viu no CEFER e reconheceu alguma deficiência no modo que eu andava, então sugeriu a prática de um esporte paralímpico e eu me interessei”, relata a jovem. 

A estudante começou o esporte recentemente, então ainda não compete, mas treina práticas do atletismo relacionadas a corridas e lançamentos. “Frequentar o CRPRP impactou positivamente minha vida e minha saúde no geral, me aproximou de um esporte interessante e ajudou a entender melhor como funcionam as práticas esportivas para pessoas com deficiência como eu, além de melhorar minha autoestima”, conta Karen.

*Com edição de Marina Giannini