82, 83, 84 e 85: novas linhas dividem opiniões

Mudança emergencial gerou insatisfações e elogios, mas não significou soluções

Diferente do esperado, os novos circulares seguem lotados. Foto: Lara Soares/JC

Por Nicolle Martins*

No dia 22 de agosto de 2024, uma nota no Instagram da Prefeitura do Campus Capital-Butantã (PUSP-CB) surpreendeu a comunidade USP: “Vamos mudar os trajetos dos circulares”. Segundo o órgão, a iniciativa surgiu como uma forma de desafogar o fluxo das quase 20 mil pessoas que pegam esse transporte para a Cidade Universitária. 

De acordo com o Plano Diretor, em desenvolvimento pela PUSP-CB desde outubro de 2023, o aumento no número de pessoas que acessam o Campus por meio de transporte coletivo se intensificou claramente após a inauguração da estação de metrô Butantã, em março de 2011. Junto ao surgimento dela, nasceu também a linha 8012-10, que saía da estação a caminho da Cidade Universitária. Antes, os ônibus próprios trafegavam pela Universidade não tinham nenhuma integração externa. 

Mesmo após a implementação de dois novos circulares, o 8022-10 e o 8032-10, a superlotação, a qualidade dos veículos e o tempo de espera sempre foram pauta de reclamações. Em 20 de fevereiro de 2024, a PUSP-CB anunciou as novas rotas dos circulares e a instituição de mais um, o 8042-10, que aconteceria somente seis dias após o anúncio. A reação do público foi tão negativa que, no dia seguinte, a decisão foi suspensa e uma consulta pública foi aberta.

Adaptação

Na nova estratégia de mudança dos ônibus, muitos aspectos foram considerados pela Prefeitura, a começar pela comunicação: a divulgação começou 11 dias antes da alteração, que ocorreu na Semana da Pátria, período sem aulas. A prefeita do Campus, Raquel Rolnik, declara em entrevista ao JC que a mudança dos circulares foi “muito beneficiada” pela consulta pública, e que todas as reclamações são recolhidas e analisadas pela Prefeitura. 

Na semana de implementação dos novos ônibus, poucos usuários estiveram nos pontos. Fiscais da SPTrans, localizados estrategicamente no início, meio e fim dos trajetos, anotavam horário de partida e chegada dos ônibus, assim como a lotação. Eles também serviram de apoio para passageiros e foram vistos fornecendo informações sobre o trajeto diversas vezes.

No primeiro dia de aulas regulares, o caos temido por alguns estudantes não aconteceu. Partindo da estação Butantã, as filas se mantiveram como antes, lotadas, mas minimamente organizadas. Respostas para perguntas como “esse é igual ao 22?” ou “é esse que passa na raia?” eram suficientes para a maioria dos passageiros, que paravam para aguardar sua vez após receberem a informação.

“Acompanhei a divulgação desde o início, mas ainda acho que foi uma mudança muito brusca, poderia ter sido mais gradual”, conta Gustavo Bulla, estudante da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Ele diz ter se programado para chegar mais cedo que o de costume para minimizar os atrasos com a possível confusão, mas que, na estação Butantã, a experiência estava igual. “Se a ideia das linhas novas era diminuir a lotação, não funcionou”, declara.

O estudante de medicina Alexandre Cavalcante, que faz disciplinas no Hospital Universitário (HU), diz que, para ele, o trajeto do 8083-10 ficou muito melhor. O ônibus, que sai do mesmo ponto do antigo 8032-10, tinha a fila mais expressiva, que chegava até a porta da estação de metrô. Apesar do elogio à linha, a quantidade de ônibus e o tempo de espera incomodaram o estudante: “Ela é bem direta para onde eu preciso ir, mas demora muito para chegar, e sempre vem um ônibus só”. 

Sobre a comunicação, Alexandre acredita que a falta de informação foi um deslize dele. “Eu sabia que ia mudar, mas não fazia a menor ideia de quando. [Ao chegar no Butantã] me falaram ‘eu vou pegar o 8083’ e eu pensei ‘do que você tá falando?’. Acho que teve uma comunicação sim, eu que não fui muito atrás”.

A opinião de Ágata de Araújo, estudante da Faculdade de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (FOFITO), é diferente. “Não acho que essa estratégia de implementar na Semana da Pátria funcionou, porque quando voltaram [as aulas], estava todo mundo perdido”. Para ela, a comunicação feita majoritariamente via redes sociais foi um erro. “Acho que deveria ter sido algo mais físico. A divulgação foi muito ruim: quando publicaram as imagens, parecia um desenho feito à mão”.

Ágata também relata que viu muitas pessoas perdidas no Portão 3, ponto final de dois dos novos ônibus. “Não tinha ninguém para instruir, perguntamos para um dos guardas que estavam lá sobre a nova rota e ele respondeu sobre o 8022”.

Até a terceira semana após a mudança, muitas das placas individuais nos pontos de ônibus não haviam sido alteradas, mas banners indicando a mudança e com um resumo dos trajetos foram instalados logo nos primeiros dias. Procurada pelo JC, a SPTrans não respondeu sobre as placas, e disse ser “instruída a pedir para que se informem com a Prefeitura do Campus”. A PUSP-CB diz não ser responsável pela mudança. 

Medida emergencial

Para a prefeita do campus, “a mudança do circulares é uma medida emergencial”. Raquel Rolnik é urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU), e defende há muito tempo que a única forma de desafogar o fluxo de pessoas na Cidade Universitária é um meio de transporte em massa: o metrô. 

Em maio do ano passado, o Metrô de São Paulo anunciou o projeto da linha 22-Marrom, que prevê a estação Universidade de São Paulo, cuja localização está sendo decidida por meio de um projeto cooperativo entre a Escola Politécnica e a FAU. 

A prefeita também destaca que a quantidade de ônibus continua a mesma do padrão anterior, e a mudança foi no número de partidas registradas no contrato com a SPTrans. “A ideia foi não fazer todos os ônibus andarem pelo Campus inteiro, mas fazer linhas mais curtas para diminuir o ciclo”, relata. 

Sobre a demora no tempo de espera, motivo de muitas reclamações, a professora atribui a um descumprimento por parte da empresa. “Enfrentamos um problema sério de pontualidade, porque tem um contrato com a SPTrans que demarca os horários de partida, e ele não é cumprido”. 

A professora Rolnik ressalta que a Prefeitura se mantém aberta a sugestões e soluções a curto prazo, enquanto o metrô não é construído: “Estamos estudando a implantação de algum outro tipo de modal, pelo menos no eixo da Avenida Professor Luciano Gualberto, que tem maior fluxo. Algo mais rápido, como um monotrilho, VLT, trenzinho, trem circular, alguma coisa que consiga agilizar essa vinda do metrô para esse espaço”.

*Com edição de Gabriel Carvalho e João Chahad