Em quatro anos, Brasil lança primeira sonda à Lua

Projeto Garátea-L é fruto de uma parceria com outros institutos nacionais e de fora do país
Foto: Missão Garatéa
Foto: Missão Garátea

Em 2020, o Brasil pretende lançar sua primeira missão à Lua numa parceria entre cientistas dos principais institutos de tecnologia do país. Além da USP, compõem o grupo o Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

O projeto Garátea-L, apresentado no dia 29 de novembro na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), pretende enviar, pela primeira vez na história, uma sonda brasileira para sobrevoar a órbita da Lua. Está no horizonte do Brasil tornar-se um país capaz de estruturar missões no espaço em apenas quatro anos e, assim, engajar grupos de estudantes e incentivá-los a seguir a carreira científica ou tecnológica na área espacial.

Vida no espaço

“Há uma curiosidade sobre as possíveis origens da vida no planeta Terra, o envio de material biológico ao espaço permite a obtenção de informações que são valiosas à investigação desta questão”, declara Vanderlei Parro, Coordenador do Núcleo de Sistemas Eletrônicos Embarcados, do IMT. Segundo ele, o IMT desenvolve, com materiais comerciais em vez de utilizar dispositivos fabricados para aplicações espaciais, um Cubesat 1U – nanossatélites muito mais baratos que o comum que possuem forma de cubo, podem ser agrupados e formar estruturas mais complexas e completas e são mais acessíveis para pesquisas em escolas e universidades.

Fábio Rodrigues, do Instituto de Química da USP (São Paulo), e Douglas Galante, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (Campinas), coordenam o projeto. Segundo Rodrigues, a EESC tem papel importante no desenvolvimento do satélite. Responsável pelo estudo da resposta química da vida em condições extremas ao lado da Profª Vivian Pellizari, do Instituto Oceanográfico, ele afirma que “pelo ponto de vista do experimento de astrobiologia, a USP vem tendo papel fundamental, ajudando na consolidação da Astrobiologia no país”.

Garatéa, do tupi-guarani, quer dizer “busca vidas”. Galante esclarece o porquê do nome. “Apesar de não estarmos literalmente buscando por vida na Lua, estaremos buscando nossas origens e possibilidades de outras vidas existirem no cosmos, além de dar os primeiros passos em direção exploração humana do espaço profundo, incluindo Marte e além”. O grupo tem lançado uma série de sondas Garatéa, e essa será a vez da versão lunar delas, a L.

Financiamento

A missão deve ter um custo de R$ 35 milhões. “Estamos tentando levantar essa verba numa parceria público-privado”, explica Galante. Segundo ele, grande parte da verba deve vir de investidores privados, que devem se associar ao projeto por acreditarem nas oportunidades comerciais, inclusive de propaganda, e educacionais. “Na parte dos experimentos, provavelmente teremos aporte de verba na forma de projetos de fomento, que estão sendo preparados nesse momento”.

Lucas Fonseca, que trabalhou na Agência Espacial Europeia (ESA), voltou ao Brasil em 2013 e abriu a própria consultoria espacial, a Airvantis. Unindo esforços com os principais pesquisadores do Brasil, ele desenhou o projeto Garátea-L e explica como ocorreu a parceria entre os diferentes órgãos. “A interface veio através de um edital no qual aplicamos para participação. As duas empresas britânicas, SSTL e Goonhilly, são responsáveis por todo o processo de desenvolvimento da missão. Já a ESA e a UKSA (Agência Espacial do Reino Unido) entraram como colaboradores e financiadores de parte do projeto”, afirma Fonseca.

 

Por Flávio Ismerim e Carolina Ingizza